terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ária do Luar


O luar, sonora barcarola,
Aroma de argental caçoula,
Azul, azul em fora rola…
Cauda de virgem lacrimosa,
Sobre a montanha negras pousa,
Da luz na quietação radiosa.
Como lençóis claros de neve,
Que o sol filtrando em luz esteve,
É transparente, é branco, é leve.
Eurritmia celestial das cores,
Parece feito dos menores
E mais transcendentes odores.
Por essas noites, brancas telas,
Cheias de esperanças de estrelas,
O luar é o sonho das donzelas.
Tem cabalísticos poderes
Como os olhares das mulheres:
Melancolia e enerva os seres.
Afunda na água o alvo cabelo,
E brilha logo, algente e belo,
Em cada lago um sete-estrelo.
Cantos de amor, salmos de prece,
Gemidos, tudo anda por esse
Olhar que Deus à terra desce.
Pela sua asa, no ar revolta,
Ao coração do amante volta
A Alma da amada aos beijos solta.
Rola, sonora barcarola,
Aroma de argental caçoula,
O luar, azul em fora, rola…



Afonso Henriques da Costa Guimaraens ou Alphonsus de Guimaraens, nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, no dia 24 de julho de 1870 e faleceu em Mariana, Minas Gerais, no dia 15 de julho de 1921. Foi um dos maiores poetas simbolistas brasileiros. Era conhecido como "o solitário de Mariana". Colaborou com alguns jornais e se tornou Juiz Municipal de Mariana. Místico, católico, Alphonsus escreveu verdadeiras obras-primas na poesia brasileira.


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