sábado, 4 de agosto de 2012

A Árvore em Fogo


Na tênue névoa vermelha da noite
Víamos as chamas, rubras, oblíquas
Batendo em ondas contra o céu escuro.
No campo em morna quietude
Crepitando
Queimava uma árvore.
Para cima estendiam-se os ramos, de medo estarrecidos
Negros, rodeados de centelhas
De chuva vermelha.
Através da névoa rebentava o fogo.
Apavorantes dançavam as folhas secas
Selvagens, jubilantes, para cair como cinzas
Zombando, em volta do velho tronco.
Mas tranqüila, iluminando forte a noite
Como um gigante cansado à beira da morte
Nobre, porém em sua miséria
Esguia-se a árvore em fogo.
E subitamente estira os ramos negros, rijos
A chama púrpura a percorre inteira -
Por um instante fica erguida contra o céu escuro
E então, rodeada de centelhas
Desaba.

Bertold Brecht


Nenhum comentário:

Postar um comentário